Muitas vezes, identifico nos meus textos
algumas características que são influências recebidas de livros que eu li e de
filmes que eu vi. Tenho escrito alguns textos sobre isso (Influências,
Releituras, Amor à primeira vista, Amor desde sempre). Mas ultimamente tenho
pensado muito em um livro que eu não li inteiro mas que, mesmo assim, me
influencia muito, especialmente na composição das personagens. É o livro A filha do diretor do circo, da Baronesa
Ferdinande Maria Theresia Freiin von Brackel. O livro foi escrito em 1875 e
minha mãe tem provavelmente a edição de 1913, com capa de tecido marrom.
Há duas questões a esclarecer. A primeira
delas é porque eu não o li até o final. A segunda é de que forma esse livro me
influencia. Antes de tudo, preciso dizer que eu gosto dessa literatura do
século XIX. Apeguei-me à literatura – para ler e para escrever – com os
clássicos (e alguns não tão clássicos) do romantismo do século XIX. O tipo de
escrita e a linguagem me são familiares e eu aprecio a forma dramática como as
coisas acontecem. Em outras palavras, eu estava adorando a história.
Apaixonei-me pelo amor de Nora e Kurt – tanto que dei ao Conde Legrant o nome
de Curt em homenagem ao Conde Curt Deghental (eu achava que se escrevia com C.
Recentemente fui conferir e vi que é com K). É uma típica história de abismo
social, em que um membro da nobreza (Conde Deghental) se apaixona por uma plebéia
(Nora Carstens, a filha do diretor do circo) e eles precisam enfrentar a
pressão das famílias e da sociedade para poderem ficar juntos. Bem, esse é um
tema que me acompanha desde aquela “primeira história adulta”, criada ainda na
pré-história da minha carreira, e que depois eu escrevi com o nome de
Petrópolis (1986) e que mais recentemente eu retomei e se tornou Não é cor-de-rosa (2005). Essa já é a primeira influência: a temática
recorrente, que também aparece em Luz dos meus olhos, Tudo que o dinheiro pode comprar, Construir a terra conquistar a vida (com algumas personagens),
e até na história de Rodrigo, por um prisma diferenciado.
Então eu estava lendo e adorando até o
ponto em que alguém sugere que eles fiquem separados por um ano, para testarem
a constância de seu amor. Embora receosos, eles aceitam e aí a minha
curiosidade me levou à última página do livro: eu precisava saber se o amor que
eu achava tão lindo era também constante e manteria o casal unido até o fim. E
foi quando eu descobri que... o livro da minha mãe está incompleto. Falta o
último caderno inteiro, o que deve dar mais ou menos 64 páginas. Ou seja, eu
nunca saberia se eles ficaram juntos ou não. Então eu parei de ler ali mesmo,
naquele momento, naquele ponto de extrema tensão (é possível que o marcador
ainda esteja em algum lugar entre as páginas). E, na minha paixão adolescente,
eu desejei intensamente que o amor deles passasse nessa prova de constância, e
eles chegassem vitoriosamente juntos ao final do livro. Esse sentimento moldou
o temperamento de todos os meus apaixonados, desde Alex e Cathy (1982) até Rodrigo e Ângela (2015). Meus amores são constantes e resistem à separação e a qualquer
prova que a vida exija deles, o final que eu espero que a Baronesa tenha dado a
meus queridos Nora e Kurt.
Então, mesmo sem ter chegado ao final do
livro – não por culpa da história, nem minha – A filha do diretor do circo
me marcou profundamente e me influencia fortemente durante toda a carreira.
Se eu tenho curiosidade de saber o final
da história? É claro que sim!! É uma curiosidade que dura cerca de 30 anos.
Infelizmente é um livro com edições esgotadas e raro de se encontrar entre os
livros usados, o que faz com que seu preço seja bastante elevado. Mas continuo
procurando e, um dia, acabo de ler esse livro, para ver se a Baronesa von
Brackel pensava como eu e fez o amor vencer no final.
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