domingo, 11 de julho de 2010

Os romances que estão na fila de impressão estão prontos para serem publicados?

Na verdade, não. Eles estão apenas escritos e aprovados em avaliações sucessivas. Somente quando chega a vez daquele texto ser publicado é que eu dou a ele a forma definitiva. É quando verifico principalmente se a contextualização foi feita a contento, e se as descrições de personagens e locais existem e aparecem na hora certa. Nessa fase do trabalho com o texto, ainda posso retirar falas – e até cenas inteiras que me incomodam, e acrescentar detalhes, falas e cenas inteiras. Só o que não está mais sujeito a mudança é a estrutura da história e a caracterização das personagens. Também não costumo nem incluir nem retirar personagens.

As personagens de Primeiro a honra, por exemplo, só foram descritas agora, enquanto preparo a publicação. Já percebi também (e até já disse aqui) que terei o mesmo trabalho quando for a vez de O canhoto. Outro dia, reli trechos de Fábrica e me assustei ao encontrar uma observação de que, em certo ponto, deve entrar o trecho com a descrição da fábrica. A fábrica é o cenário principal da história e eu não o descrevi! Preciso voltar a esse texto, porque também não lembro se descrevi direito as personagens. Além disso, falta-lhe um título. São todas questões que eu resolverei quando for a hora de publicar essa história.

Às vezes, a complementação necessária consiste em apenas acrescentar um parágrafo para situar o local e a época, como aconteceu em O maior de todos. Às vezes, é necessário dar mais consistência às personagens e suas questões pessoais, como foi com O destino pelo vão de uma janela.

A história que mais mudou nessa fase de preparação para publicação foi O processo de Ser. Em 1986, quando a inventei, eu tive acesso a pouco material sobre a cidade e a região, como são as pessoas e a vida naquele canto do mundo. Então, quando fui publicar, fiz nova pesquisa e consegui mais informações, que me permitiram fazer alterações importantes que enriqueceram a história. Troquei a religiosidade ortodoxa russa por expressões folclóricas do local: a festa do verão, em vez de ser a Páscoa, passou a ser o Ysyakh. Acentuei a questão do frio com informações sobre a luz. Considerei também que o sentimento de gratidão de Piotr não estava bem explicado, então praticamente acrescentei uma cena inteira após uma cena que já existia, em que esse assunto era abordado de forma muito superficial. Mudei também umas falas e gestos aqui e ali, por falas e gestos mais maduros – em 2003, quando publiquei, eu não tinha mais os 16 anos de quando criei, nem os 19 anos de quando escrevi.

Então, de fato, minhas histórias só estão realmente prontas quando se tornam livros. E, mesmo assim, às vezes acontece de eu lembrar de uma cena e pensar em algo para melhorá-la. Aí eu lembro “Ah, já publiquei, deixa pra lá”. Enquanto a gráfica não liga as máquinas, eu me dou o direito de ainda tentar melhorar os meus textos.

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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